
Nos últimos tempos, tem sido complicado ignorar como a percepção dos jogadores mudou em relação aos grandes lançamentos AAA. Com tantas polêmicas culturais, decisões de empresas questionáveis e uma sensação de estagnação na criatividade, muitos parecem estar se cansando do que é oferecido. Mas sempre surge aquele jogo que vem lembrar ao mercado o que realmente importa para as pessoas.
A Visão de Daniel Vávra
Daniel Vávra, o diretor de Kingdom Come: Deliverance II, explica essa divisão entre o que as grandes publishers oferecem e o que os jogadores realmente querem, fazendo uma comparação com o cinema de Hollywood.
A Estrutura do Cinema
“Se a gente analisar o cinema, especialmente no passado, os estúdios de Hollywood funcionavam de uma maneira bem diferente das empresas de jogos”, comentou Vávra. “Lá, você tem produtores que escolhem roteiros, buscam financiamento e montam suas equipes, geralmente dando bastante liberdade ao diretor. O poder fica nas mãos do diretor e do produtor.”
Riscos e Novos Talentos
Ele ainda destacou que no cinema os produtores costumavam apostar em novos talentos, mesmo que esses fossem inexperientes. “Bryan Singer era bem jovem quando dirigiu seu primeiro X-Men. Ele recebeu uma franquia importante. Antigamente, Hollywood estava disposta a arriscar e explorar novas ideias com pessoas novas”, complementou.
A Realidade dos Jogos
No universo dos games, segundo Vávra, a situação é bem diferente. “Aqui, você geralmente tem um grupo de executivos decidindo tudo. O diretor ou o roteirista muitas vezes não têm a palavra final, o que faz com que o jogo corra o risco de se tornar um produto corporativo genérico, em vez de uma verdadeira obra de arte.”
Desafios na Criação de Games
Vávra também falou sobre como essa estrutura pode afastar mentes criativas e dificultar o surgimento de projetos inovadores. Ele ressaltou que, ao contrário de um filme — que pode ser rodado rapidamente e precisa de uma grande equipe por apenas alguns meses —, um videojogo requer um exército de profissionais se dedicando intensamente durante anos, o que complica ainda mais a situação.
Um Chamado à Mudança
As observações de Vávra ilustram um sentimento crescente na indústria: o excesso de controle corporativo muitas vezes sufoca a criatividade. Para trazer de volta o brilho dos grandes títulos AAA, talvez a indústria dos jogos tenha muito a aprender com a velha Hollywood — aquela que se atrevia a arriscar.